terça-feira, 29 de julho de 2008

Doação















Quando a hora já anunciava a passagem de domingo pra segunda-feira armamos nossas redes na varanda pra assistir " Muito além do jardim". Não deveríamos estar na casa ainda, mas as circunstâncias, um pouco de preguiça de voltar e as montadoras de carro brasileiras nos obrigaram a ficar.

Sem mais comida, senão batata frita e biscoito, imaginei viver ali por mais um mês sem comida e sem dinheiro. " Sair por aí tirando frutas das árvores", pensei. Riram de mim. " Só se for coco. Passar um mês se alimentando de coco"!

Muito tempo depois, concentrados no filme, ouvimos um barulho de água sendo derramada ao pé do muro. Um coco simplesmente se abriu, do nada, e choveu água de coco, que foi recebida como uma espécie de milagre da natureza. Uma bênção dos céus, ora! Corremos pra debaixo do coqueiro, de boca aberta, língua pra fora, olhando pra cima feito crianças na chuva. Era doce, mas tinha um sabor meio verde,sabe? De fruta verde.

Depois tudo voltou ao normal, tirando a sensação de que o coqueiro generoso e prestativo deve ter ouvido nossa conversa...

domingo, 1 de junho de 2008

Pátria


Aqui, os pessimistas são servidos a todo instante e os conformistas disputam os restos debaixo da mesa. Queria me proteger da náusea, mas os donos da casa oferecem doces e eu me distraio com a televisão.

Se houvesse mais crianças seria suportável; talvez até alegre. A sisudez de cada cômodo reflete a política padrão: os que fazem e executam as leis precisam externar uma seriedade quase divina, enquanto os criminosos andam desconfiados pelos corredores, rezando para não serem descobertos.

Como o legislador é também criminoso e os criminosos comuns têm sua parcela de poder, todos se tocam superficialmente e guardam ressentimentos que só a diplomacia mais arguta consegue mascarar.

A honestidade é só mais um hormônio em minhas veias. Quando quer se manifestar, é reprimida. "Coisas da juventude", dizem. Pois bem. A alma jovem é serena e ingenuamente sábia. Penso em termos práticos, então: mais dinheiro me compraria um pouco de falsa liberdade, mas ter outro lugar onde viver seria o ideal. Pena não ter pra onde ir...

Eles prometem vantagens e oportunidades de crescimento, mas se a economia vai bem somos os últimos a saber e não há mais um centavo de toda a prosperidade, que foi repartida silenciosamente entre poucos.

Se quer dinheiro, trabalhe! Se quer dinheiro e estabilidade, perca toda a juventude aprendendo várias coisas das quais jamais precisará lembrar e se submeta a concursos, em uma seleção repugnante de robôs programados para um fim específico que ninguém sabe qual é.

É que as funções que eles têm pra jovens nesta casa são obscuramente detestáveis e perversamente inúteis, mas lhe exigem experiência e formação específica em dezenas de coisas que você nunca pensou serem necessárias.

Assim, censurada em minhas vontades, sem tempo pra sonhar e sem dignidade, sou prisioneira entre parentes e amigos, e a casa toda me parece um castelo medieval fedorento e escuro cujas paredes reservam tortura e morte, e o chão inteiro se cobre de mendigos inteligentes, sensíveis e criativos sobre o qual se movem os ricos robôs indiferentes, programados para precariedade, decadência e nada mais.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Sobre um pardal cego e a complicada natureza humana

Meia-Noite!

Como faço todos os dias, levo minha cadela para passear. O nome dela é Brenda (mas Levi, eu juro! Quando eu ganhei ela já tinha esse nome!). É sempre a mesma rotina - por volta de meia noite rodeio dois quarteirões com ela (um trajeto parecido com um "8"), dou uma passada na avenida e fico parado, conto dez carros (?) e volto pela rua que dá acesso à minha casa; neste momento do trajeto é a hora da liberdade, o grande momento do dia da Brenda - eu solto a coleira dela e ela sai farejando freneticamente todos os postes, todas as manchinhas na calçada que podem parecer uma urinada de cão; e por fim ela mesmo dá uma mijada também para tentar passar para outros cães transeuntes a mensagem de que aquele lugar já era território marcado. Trata-se de uma Cocker Spaniel. Dourada. Linda!

Acontece que, quando estou prestes a chegar em meu lar doce lar, me deparo com uma cena inusitada.

Vejo um pássaro voando rasante e se estatelando nas paredes das casas. Ele voa, bate com a cara na parede e volta ao asfalto novamente. Deixo minha cadela dentro de casa e volto. Tenho que conferir este “fenômeno” com mais atenção. Ao voltar, encontro o pássaro no meio do asfalto. Pego-o com a mão (claro que sob inúmeros “pios” de protesto da ave), e vejo que se trata de um pardal. Olho mais perto e percebo também que o rosto dele está gravemente machucado, tem uma fratura muito feia na parte superior ao bico, um grande buraco, profundo. Olho mais perto ainda e, para meu espanto, vejo que na verdade o buraco vai até os olhos, uma fenda aberta, como se fosse causado por uma bicada muito forte de um pássaro maior ou uma pedrada de algum “humano” desumano. Acontece, ilustre leitor, que o ferimento não só abriu uma fenda na cabeça do pobre pássaro, como também estraçalhou seus dois olhos!

Ele não têm olhos! Ele é cego! Ele ficou cego com o duro golpe!

Nossa! Sinto um calafrio subindo minha espinha dorsal, um aperto no coração. Sinto-me um verdadeiro idiota impotente. O que fazer? Um pardal cego! Meu Deus!

Por um segundo, um segundinho de nada, me passa pela cabeça a deprimente idéia de deixá-lo lá. Sabe aquele raciocínio do tipo: “Deixe que a natureza se encarregue de tudo George, vá para casa, faça seu leite com nescau e farinha láctea, veja um pouco de tv, durma e seja feliz.

Resultado?

Trouxe-o para casa! Pego uma caixa espaçosa e coloco delicadamente meu novo “hóspede” nela.
Tento dar água, ele bebe um pouco.
Nossa, que situação ein? Agora estou aqui no quarto com um pássaro cego ao meu lado dentro de uma caixa e não faço idéia do que fazer.
É claro, não preciso ser um veterinário para deduzir que, no andar da carruagem, esse pobre pardal vai ser promovido para voar logo, entre nuvens e anjos tocando harpas, no reino dos céus dos passarinhos.
O que deu em mim? Investir tempo numa causa perdida.

Será que é perdida mesmo? Talvez não totalmente.

Explico.

Olhando agora para ele, lembro-me de uma história que meu professor de filosofia contou para ilustrar o estilo literário da chamada “filosofia oriental”.
Ele disse que, basicamente, a filosofia oriental consistia em histórias (parábolas) com conteúdos que sempre representam uma lição de cunho moral. E diante disso ele contou a seguinte história:

Um mestre estava a caminhar com seu discípulo. Estavam passando à beira da lagoa quando seu discípulo, surpreso, disse:

-Olhe mestre! Um escorpião está se afogando no meio da lagoa!

O mestre não pensou duas vezes! Desfez-se da túnica e, imediatamente, adentrou na lagoa . Nadou até onde o escorpião estava a se afogar, e tentou trazê-lo a margem com a mão. Durante a tentativa, o escorpião desferiu inúmeras picadas na mão do mestre. O mestre, mesmo em meio a gritos de dor, conseguiu, à duras penas, trazer o escorpião à margem e salvá-lo.
O discípulo, não pouco espantado, perguntou ao mestre:

- Como podes mestre? Esforçar-te pra salvar um ser com a natureza tão ruim? Ele lhe desferiu dezenas de picadas enquanto o senhor tentava fazer o bem à ele!

O mestre, mesmo em muitas dores, conseguiu dar um leve sorriso no canto da boca e respondeu:

- Observastes bem meu jovem, de fato o escorpião me picou porque estava seguindo a sua natureza.

No que o discípulo novamente disse:

- Então mestre? Porque o salvou?

- Porque, salvando-o, eu estava seguindo a minha natureza.

Eu salvei esse pobre pardal cego porque estava seguindo minha natureza ilustre leitor. Simplesmente não podia deixá-lo ali, cego e desamparado. Sim ele vai morrer eu sei! Mas morrerá na segurança dos meus cuidados e, provavelmente, terá um enterro decente! E chorarei sua morte fazendo com que ele, para sempre, seja lembrado em minha memória - e claro, neste texto.

Me vêm agora à cabeça uma passagem nas Escrituras Sagradas que diz:

“Vinde, benditos de meu pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me. Então os justos lhe responderão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou nu e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te ver? Ao que lhes responderá o rei: Em verdade vos digo: cada vez que o fizeste a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.”
Evangelho de Mateus, cap. 25, vers.34 - 40. (Versão da bíblia de Jerusalém)

Neste momento meu amiguinho está em sua caixa, andando de um lado a outro tentando entender que lugar é aquele. Sacode suas penas, dá uma ciscada, olha para cima como se pudesse enxergar alguma coisa e lança-se em mais um vôo em direção ao nada (na perspectiva dele), e em direção à parede (na minha perspectiva).

Sinto dizer, mas vou ausentar-me por um instante ilustre leitor, tenho um novo amigo para cuidar.

Já lhe dei até um nome:

Chama-se Bart!

Uma referência e singela homenagem à Bartimeu, o cego de Jericó que estava à beira do caminho e foi curado pelo Mestre!

Tem uma lenda popular onde se diz que, às vezes, Jesus se disfarça de mendigo para testar a bondade dos homens. Será que ele se disfarçaria de pardal cego? Será que o pardal vai morrer? Não, não vou pensar nisso. Todos vamos morrer! A questão não é a morte, mas sim a vida que se vive. E isso já é um outro assunto...

“Entraste na casa do meu corpo,
desarrumaste as salas todas
e já não sei quem sou, onde estou.
O amor sabe. O amor é um pássaro cego
que nunca se perde no seu vôo.”

Casimiro de Brito

Música: Voa Liberdade
Cantor: Jessé



quinta-feira, 8 de maio de 2008

Fortaleza feia e transtornada

Durante quase três dias de greve, foi quase impossível se desemblogar. Sair de casa envolvia certos riscos. Até mesmo para quem estava dentro de seu próprio carro. A cidade parecia mais uma selva de máquinas e de pessoas irritadas.

1. Congestionamento próximo ao terminal de Parangaba. Todo tipo de infração de trânsito e ausência da AMC. Entre 11:00 e 14:00 horas do dia 08/04/08.

2.Transporte improvisado de trabalhadores na Av. Dedé Brasil.

3.Ruas secundárias também engarrafadas. Estes moradores nunca devem ter visto tantos carros ao mesmo tempo.




domingo, 20 de abril de 2008

Legado Um

Agir mais por amor do que por obrigação;
mais por gratidão do que por obediência

domingo, 13 de abril de 2008

Chuva


Chuva é uma coisa interessante.. estava estudando física estatística[crianças não tentem isso em casa, pode ser muito perigoso sem a supervisão de um adulto, afinal de contas vocês podem começar a ingerir grandes quantidades de capucino e suas mentes começam a viajar de uma forma descontrolada hehehehe] quando começou a chover de uma forma na qual até com medo eu fiquei, talvez tenha algo a ver com meu céu estrelado[o teto do meu quarto] começar a mostrar sinais de infiltração ou talvez esse barulho enorme das gotas de água batendo no teto do meu quarto. Onde eu quero chegar, é que no fim das contas algo me impulsionou a ir à janela principal da minha casa, de onde eu tenho uma vista privilegiada da praia e uma pracinha que tem aqui perto, para contemplar essa bendita chuva. Nessa contemplação, e talvez ainda por efeito dos capucinos, minha imaginação começou a fluir. Mas de alguma forma eu não consegui pensar nas desgraças que a chuva trás consigo, como o que está acontecendo no interior e em alguns locais urbanos, nos quais casas estão sendo destruídas, raios estão atingindo pessoas, no mais, pessoas estão sofrendo. Me desculpem mas eu não consegui. De alguma forma eu só consegui pensar, afinal de contas eu estava contemplando, na parte “boa”, na beleza da chuva, nas plantações no mesmo interior que antes foi citado e por um lado pessoal eu comecei a lembrar de acontecimentos muitas vezes deixados na periferia do nosso campo de consciência. Momentos esses que vão ficar pra sempre na minha mente, como quando eu era criança e adorava fazer barquinhos de papel e ver até onde ele ia antes de afundar e ser mais um pedaço de papel molhado, assim também lembrei de um beijo que dei na chuva em um dia em que tudo parecia estar arruinado exatamente por causa dela, a chuva, mas foi ela que no fim das contas salvou o dia, beijem na chuva, é muito bom. Lembrei também das vezes de quando eu ainda era criança e tomava banho, literalmente, de chuva, como uma vez que fiz competição de barrigada na poça de chuva na casa dos meus primos [hehehe], muito bom![crianças isso vocês podem fazer, talvez fiquem de castigo ocasionalmente, como eu fiquei, mas vai valer a pena!]. A chuva também une as pessoas, ou você nunca ficou um tempo a mais com quem você ama por causa dela? Sabe, aquele sofá quentinho assistindo um filme e nem percebendo o tempo passar, assim também com os amigos jogando “peace”, oops, war[apesar de nesse caso, esse jogo ser destruidor de lares e amizades hehehe] então, vou usar outro exemplo como twister, esse é mais interessante, afinal de contas acontecem uns malhos involuntários [hahahaha]. E para os amantes da literatura, a chuva é uma benção, ler um bom livro acompanhado de um bom chocolate quente é uma das coisas mais prazerosas da vida! Na verdade eu poderia passar a noite escrevendo sobre todos os benefícios dessa bendita chuva, mas ainda tenho que terminar de estudar. Então no fim das contas, antes de parar pra pensar na sua chapinha estragada ou ter que acordar numa segunda-feira às 5h30min da manhã pra ir pra faculdade ou trabalhar ou em todas aquelas poças d’água, que os carros teimam em passar por cima em alta velocidade pra te molhar, sorria e pense nos benefícios dessa dádiva que é a chuva, e que de bônus você ainda tem a oportunidade única de ver um dos efeitos mais belos feitos por Deus, o arco-íris! E que chova bem muito..

segunda-feira, 17 de março de 2008

O Mérito de Maquiavel

Diz-se do Brasil que é um país sem memória. Conta-se ainda que a história é contada pelos detentores do poder, permeada das perspectivas ideológicas que os apetecem. Pois bem: a memória do Brasil é curta não apenas na cabeça das pessoas, mas ainda na preservação de arquivos e documentos - o que é decerto mais grave - e, quando sobra alguma coisa para contar, revelam apenas um pedaço microscópico de um universo de possibilidades tão vasto (ou mais) quanto o possível de se imaginar.

Mas pergunto-vos, meus amigos: e se tivéssemos mais lembranças, teríamos boas histórias para contar!? Falo de boas lembranças em níveis para além dos familiares: conquistas coletivas, sociais, políticas. A História, ciência com agá maiúsculo, essa não pode reclamar muito do passado, apenas estudá-lo, relatá-lo, aprofundá-lo. Mas é ela mesma quem nos propõe a tessitura do futuro através do presente!

Se hoje não temos lembranças de ontem, meus amigos, a História nos conclama à feitura da lembrança de amanhã.



Tomemos, pois, a questão do mérito de Maquiavel: a grande "sacada" do filósofo florentino em "O príncipe" foi, segundo boa parte dos seus críticos, a de relatar a política tal qual ela é, e não como deveria ser - "vício" de tantos outros filósofos da política. Teria, pois, afastado toda sorte de idealização e proselitismo para desvelar as entranhas de como a política realmente funcionava.

Ou funciona: estará aí o erro dos politicistas (políticos, analistas, cientistas e jornalistas políticos) de hoje? Maquiavel deixou de ser uma profunda análise da política de seu tempo e lugar para tornar-se uma cartilha pela qual se pautam muitos dessas figuras públicas. Ganhou até adjetivo e advérbio! À sombra do epitáfio de Maquiavel se abrigam covardes e facínoras da História, deixando a política do jeito que ela é; conservadora, estacionária, reacionária.

Não será um absurdo que o livro, dos idos de 1513, permaneça, por ironia dos tempos, como estrela-guia ideológica de políticos a esquerda e à direita!? Ou, se preferirem chamar-me de "jovem e rebelde" (como chamariam a Rômulo Justa sobre Descartes*), não seria muito mais radical e ultrajante contestar um paradigma de meio milênio do que aquele, recém-nascido na cuca fundida de nossos pais? Não serão dessa perspectiva as recentes gerações mais próximas e vitimadas por aquela ideologia que caracteriza o pensamento moderno (mesmo a mais de duzentos anos do fim da Era Moderna)?

Que o mérito de Maquiavel caiba a ele, e só ele, fechado no seu século XVI.

E que nós tenhamos coragem de nos apropriar de nosso tempo e espaço.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Os 13 pecados capitais

1.Gula
2.Luxúria
3.Avareza
4.Ira
5.Soberba
6.Vaidade (se não trouxer prejuízo pra ninguém, todo mundo tem o direito de ser vaidoso sim)
7.Preguiça (deite numa rede à beira-mar num fim de tarde e me diga se preguiça é pecado)

8.Modificação genética (cada caso tem de ser avaliado)
9.Poluição do meio ambiente
10.Causar injustiça social
11.Causar pobreza
12. Tornar-se extremamente rico (na mesma proporção em que alguém fica mais rico outro fica mais pobre, mas se não fosse assim...)
13.Usar drogas (mais uma vez: há casos e casos)

Bento XVI acha que não há tortura psíquica e sentimento de culpa suficiente no mundo. Bem, se alguns desses pecados fossem consenso universal, algo livre de remorso e obrigação, o mundo até que seria melhor mesmo! Não poluir o meio ambiente deveria ser um mandamento! Não causar injustiça social também! A questão é: quem é que segue qualquer um dos mandamentos mesmo?

Quais os pecados que vocês defendem como pecados e quais mereceriam um desconto? =P

quinta-feira, 6 de março de 2008

Sejam bem-vindos à Casa de Alice...




...porém cuidado; você pode não se sentir à vontade.


Alice é uma mulher na altura de seus 40 anos, manicure, que levanta cedo, ônibus, trabalho, ônibus, casa. Alice mora com o marido (Lindomar), os três filhos (Lucas, Edinho e Junior) no pequeno apartamento no subúrbio de São Paulo que pertence a sua idosa mãe (Dona Jacira) que diariamente acorda, lava, passa roupa, cozinha, arruma a casa e dorme... e acorda, lava, passa roupa, cozinha, arruma a casa e dorme... e acorda, lava, passa roupa, cozinha... e vez por outra têm sérios problemas no coração e é afligida por um probleminha de catarata, que tenta, com um esforço comovente, disfarçar. "Já viu o preço do colírio?"
Alice e Lindomar estão casados à vinte anos. Lindomar é taxista, e dentre outras coisas, gosta de tomar uma cervejinha com os amigos e transar com ninfetas. Lucas, Edinho e Junior são os filhos do casal, com idade entre 16 à 25 anos. Garotos que, como todos os filhos da classe média baixa de qualquer lugar, têm seus próprios sub-mundos e segredinhos mórbidos.

Esse enredo é do premiado filme "A Casa de Alice" (Brasil-2007), um drama que se passa no subúrbio de São Paulo.

Você deve estar pensando: o que têm de mais? É apenas a realidade!

Pois muito bem caro leitor...

Rita é uma mulher trabalhadora, têm por volta de seus 40 e poucos anos. Funcionária pública mal remunerada, tenta compensar o baixo salário sendo "galega" nas horas vagas. Pobre Rita! Acorda, ônibus, trabalho, ônibus, mais trabalho, ônibus, casa... e acorda, ônibus, trabalho, ônibus, mais trabalho, casa... e ônibus, trabalho, ônibus... e têm, devido ao extresse cotidiano, sérios problemas de pressão baixa, colesterol elevadíssimo, tirando as pitadinhas de depressão. Rita têm dois filhos; George(26) e Thaís(16) que, "como todos os filhos da classe média baixa de qualquer lugar, têm seus próprios sub-mundos e segredinhos mórbidos".

Rita namora Wando, mecânico, com o qual mantém uma relação de dependência, mas que no entanto nunca a satisfaz por completo. Wando é um homem que entrou na vida de Rita com uma bagagem (enrolado com a ex-mulher e dois filhos apegadíssimos ao pai). Rita sofre por perceber que, entre históricos de ex-mulher e dois filhos apegadíssimos ao pai, ela, em uma porcentagem justa, talvez tenha do Wando algo em torno de 8,3% de atenção. Pobre Rita, cobra do pobre Wando um preço alto, do qual ele nunca vai poder pagar.

O filho mais velho de Rita chama-se George (26), ela por toda a vida, de uma forma desesperadamente auto-sacrificial, investiu 110% de si para proporcionar ao pobre garoto sem pai a melhor educação que ela poderia dar, colocando-o em bons colégios e sempre dando a ele um relativo conforto.
Pobre Rita, não imaginava que seu filho ia se tornar um garoto acomodado que ia desperdiçar todas as chances (e boas chances) de se dar bem na vida. Pobre Rita, viu escoar pelo ralo a possibilidade do filho prosperar, proporcionando a sua pobre e sofrida mãe um mínimo de conforto em sua quase velhice. Pobre Rita! Pobre Rita!
George, como todo bom cara-de-pau mimado, tornou-se um parasita, sugando de sua miserável mãe o que ela tinha (e não tinha) para satisfazer seus mais insanos e irracionais caprichos.
George percebeu (ao menos isso...) sua triste condição às portas de completar seus 26 anos. Tenta correr atrás do prejuízo, mas o tempo é cruel. Será que consegue? Difícil.
Que Deus o ajude!

Sua filha mais nova se chama Thaís(16)... não, não me atrevo...

Isso não é outro filme...

É minha vida!

Sou, por natureza, um grande pessimista! Penso que, devido a minha própria condição, sempre tive predileção por livros e filmes que retratassem a desesperança. Porque, pra ser sincero, é mais fácil acreditar nela. Tenho uma doente atração pelos perdedores.

Por isso sou apaixonado pela literatura de Charles Bukowski (1920-1994), escritor americano considerado o grande profeta dos perdedores e mazelados deste mundo sem sentido. Bukowski revela e esmiuça o anti-sonho; um mundo de marginais, viciados, bêbados e prostitutas, dos quais só não se pode dizer que estão na sarjeta porque sempre decaem um pouco mais.

Assim como na história do filme "A Casa de Alice" e minha própria vida, Bukowski descreve as pessoas tal qual na vida real, retratadas de forma triste, divertida, escatológica e universal, em toda sua vulgaridade e realidade.

A realidade da rotina é chocante ilustre leitor! Porque é bem certo que nosso lar (casa) é, de forma geral, o lugar onde as pessoas (família) conseguem extrair (como tirar pus de uma inflamação) o que há de pior em nosso caráter. Todos os meus e os seus viciozinhos e segredinhos mais insanos não são segredos para quem convive comigo e com você à mais de 20 anos. Basta um pequeno vacilo, um desentendimentozinho à toa, e você vai ter a desgraçada experiência de ver e ouvir, impotente, seus segredos e mazelas serem vomitadas sumariamente na sala de sua casa diante de todos. É de fato, algo animalesco! Acreditem!

É chocante amigos! Comovente e chocante!

Então pergunto: Há esperança!?

Muito bem ilustre leitor, minha porta agora está escancarada para você! Pode entrar! E fique à vontade!

Ou não!

"Percebi ainda outra coisa debaixo do sol:
Os velozes nem sempre vencem a corrida;
os fortes nem sempre triunfam na guerra;
os sábios nem sempre têm comida;
os prudentes nem sempre são ricos;
os instruídos nem sempre têm prestígio;
pois o tempo e o acaso afetam a todos."
ECLESIASTES 9:11

George Facundo

Veja o trailer do filme "A Casa de Alice":

quarta-feira, 5 de março de 2008

Coragem



Difícil é assumir ser, por um momento na vida, um relógio de ponteiros pesados, que se arrastam com uma languidez perturbadora.

É que muito cedo em nossas vidas começamos a buscar mais deveres do que direitos.
Um desespero sutilmente nos sugere que vai ficar tudo bem: estamos construindo o nosso futuro!

A pergunta segue nua, sem ironia: estamos construindo que futuro?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A Hermenêutica dos Equívocos

“Hermenêutica deve se preocupar não com a intenção que o autor passa para os seus leitores, mas sim com todas as possíveis interpretações que estes possam ter a respeito de determinada mensagem” (Paul Rocœr)

A mudança na percepção da realidade para os seres humanos é constante e varia de individuo pra individuo. Um mesmo fato, relatado por pessoas diferentes, traz implicações diversas, pois o foco da atenção de cada pessoa se detém em pontos que são significativos para elas. Isso revela uma constante variação da percepção do mundo no ser humano, e o enfoque que cada um dá aos fatos revela o seu posicionamento face às suas experiências e à realidade. O cenário da existência humana é composto de muitos fatos, e as pessoas, muitas vezes, fixam-se em um só, sem buscar a sua relação com os demais, perdendo assim a visão do todo. Ao interpretarmos determinada situação, somos levados a perceber apenas aquilo que queremos ver, muitas vezes esquecendo daquilo que outro quer nos fazer enxergar (o que muitas vezes, realmente precisamos).
Em meio ao conflito de enfoques pessoais, se agrega o fato de que a finalidade de determinada mensagem nunca é o resultado que incide em quem a recebe. Isto pode ser melhor explicitado pela fórmula (i)?(e)* (lê-se: a intenção nunca é o efeito) que é um construto da Teoria da Informação e sustenta o fato de que a comunicação humana se baseia, sobretudo, na incerteza das relações do ser humano com realidade e de suas interpretações por parte dos indivíduos.
A incerteza é em grande parte geradora de equívocos, pois a limitação das visões individuais esconde em si um ardil para as significações. Principalmente quando os conteúdos emocionais são explícitos, ocorre uma maior ênfase nas interpretações mal formuladas. Daí surgem os mal entendidos e tudo mais que os acompanha, fazendo com que seja mais difícil voltar a um estado de equilíbrio inicial e a tentativa de um consenso.
É portanto uma armadilha de ter uma visão voltada, em excesso, para si mesmo, bem como a insistência em fazer outra pessoa aceitar esta visão. Pois muitas vezes o outro não vê o mundo igual a você, e acima de tudo não precisa aceitar o modo como você o vê também. Mais admirável é saber que cada pessoa tem seu ponto de vista e que este deve ser levado em conta, mesmo se nós não o aceitarmos de forma total.
Talvez o enigma da aceitação e do consenso seja apenas a consciência de que aquilo que outra pessoa pensa deve ser levado em conta, de alguma maneira, pois é algo significativo para ela. E isso se torna bastante útil para sabermos que o mundo é muito mais do que aquilo que pensamos e vemos nele, sozinhos.


* um conceito semelhante é formulado por Hegel, ao qual chamou de ecologia da ação, sendo esta a idéia de que as conseqüências de uma ação escapam das intenções de seus iniciadores.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Milagres

As pessoas passam a vida esperando por um "milagre", pra ter a certeza da existência de Deus.. basta olhar no espelho ou olhar uma simples árvore.. mas daí alguns falam: -"ahh mas eu conheço toda a estrutura da árvore e sei como ela nasce e se desenvolve.. basta plantar uma semente e com um pouco de água e luz solar, ela cresce e fica assim"[e explica tudo bem detalhadamente de forma científica, o que não pretendo fazer aqui].. muito bem.. assim da mesma forma como eu estudo Física, a cada dia descubro um pouco mais sobre o funcionamento de algumas coisas. Tudo bem, onde eu quero chegar é no seguinte pensamento: Uma coisa não anula a outra. Se nós descobrimos como algo é feito, cresce ou funciona não anula o fato de alguém ter feito aquilo, certo?! Para algumas pessoas isso é assim tão simples e lógico. enquanto pra outras, quanto mais se descobre como algo foi feito, cresce ou funciona é simples e lógico também que este algo simplismente surgiu. Vamos falar da criação do mundo, ok?! vocês já pararam pra ver o tamanho e grossura de um livro de física nuclear? se Deus fosse explicar com detalhes como cada átomo se juntou a outro átomo e foram ocorrendo as fisões e fusões, seria praticamente impossível que sua Palavra fosse espalhada e comunicada mundo a fora.. Deus deu inteligência suficiente ao homem para que ele chegasse a essa conclusão e descoberta "sozinho". Aí entra, o que a antropologia evolucionista chama de evolução humana correspondente ao desenvolvimento de sua inteligência. Agora uma opinião pessoal: Quanto mais conheço do mundo e suas maravilhas, mais vejo a beleza, a grandiosidade de Deus e sua perfeição. Mas, respeito a opinião das pessoas, pois, cada um tem direito a uma, ao menos enquanto vivemos em uma sociedade da "livre expressão de pensamento e opinião". Se elas preferem achar que porque sabem do funcionamento de algo, isso dimiui a fé delas em Deus, só tenho a lamentar por elas e respeitar seus pensamentos. Respeito, mesmo não sendo respeitada na maioria das vezes.

Natal, 21 de fevereiro de 2008.

*foto e efeito, Nathália M.[eu]

=)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A Estréia


Mar de neblina por entre nós.
A adrenalina em meio ao negrume.
As mãos, cobrindo vagalumes.
E a noite, escoando pelas estrelas.
Bocas tímidas, ávidas de um prelúdio,
Desprendiam tolos sorrisos.
Sorrisos-fagulhas, que logo também eram fumaça.
Por trás da cortina de bruma,
Se desfez nossa estréia.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Flores Frívolas no Jardim da Sacanagem



Meu Deus
Como sou imbecil
Imbecil sim
E ainda por cima cego
Isso mesmo
Sou cego também
Num mundo de cegos
Onde quem tem um olho é míope
Aí lascou

Nada não neguim
O negócio é curtir
Vamu curtir
Chegou o momento
É época do pão e circo
Ops...
Quer dizer
É época de carnaval!
O samba no pé
A lôra gelada na mão
E a morena quente no colo do alemão
Solta o pancadão meu irmão

Cadê o grito da galera???

Hêêêêê!!!

E a moçada cai na folia!

Hêêêêê!!!!

Olha a goma!!!

Hêêêêê!!!
Olha o confete!!!
Hêêêêê!!!
Olha o lança perfume!!!
Hêêêêê!!!
Olha o tráfico de drogas lucrando alto!!!
Hêêêêê!!!
Olha os gringos comendo a criançada!!!
Hêêêêê!!!
Olha a Aids!!!
Hêêêêê!!!
Olha os filhos que não voltam pra casa!!!
Hêêêêê!!!
Olha um monte de mães chorando!!!
Hêêêêê!!!
Olha o sorriso amarelo!!!
Hêêêêê!!!
Olha a folia da solidão coletiva!!!
Hêêêêê!!!
Olha o pessoal cagando pro que eu tô falando!!!
Hêêêêê!!!
Olha o Hêêêêê!!!
Hêêêêê!!!

- Estamos ao vivo do meio da folia pra todo o Brasil... Tem um folião aqui e vou conversar com ele! E aí amigo? Que tá achando da festa?
- Sóóóóóóóóó...
- Muita mulher bonita?
- Sóóóóóóóóó...
- O que você tem a dizer pra quem tá em casa?
- "?"

... passaram-se alguns segundos, afinal de contas a pergunta foi muito complexa... o folião enfim responde... e a produtiva entrevista continuou...


- Sóóóóóóóóó...

- Veio com a turma ou sozinho?
- Sóóóóóóóóó...
- E como você se sente curtindo essa folia sozinho no meio desse mar de gente?

... a resposta? adivinha!?


- Sóóóóóóóóó...


Mas tem essa não
Vamos pra folia meu irmão
E tôme pancadão
É tempo de folia
É tempo de curtição
Tá todo mundo convidado
Pro bloco da solidão

... a folia de pessoas que fingem a pseudo-felicidade e o vazio contentamento de achar (fingir?) que tem tudo não tendo absolutamente nada...

Imbecil
É isso que sou

Por quê?
Por quê meu Deus?
Como fui deixar acontecer?

Escapou por entre meus dedos
Nunca mais vou vêla
Nunca mais
Nem na vida
Nem no carnaval
Nunca mais

Ela

Um lindo rosto
Perdido na multidão

Adeus

Mas tem essa não
A fila anda mah
Levanda a cabeça
E vamos
Vamos pro baile de máscaras
Basta sair de casa e verá
Em meio a tempestades de goma
E o brilhar de confetes
O carnaval das vaidades e ostentações

Eu desisto
Não luto mais
Me entrego
Vou ao baile de máscaras

Ponho a máscara da felicidade
E mergulho no mar de sorrisos falsos
Eu sou um gênio
Felicidade
Minha melhor fantasia

E quando o bloco passa
De repente tudo perde a graça
Foi tão rápido
Nem percebi
O tempo não perde tempo

E volto pra casa na quarta
Com a alma em cinzas

E é com muito pesar que tiro minha máscara
Finalmente
Ai que dor

Contemplo meu rosto no espelho
E pra minha triste surpresa
Percebo que não tenho rosto
Tudo o que vejo é um imenso vazio
O nada

Mas tem nada não
Ainda bem que máscaras é o que não me falta
E pra ocasiões assim tenho uma perfeita
Uma máscara que particularmente não gosto
Mas faz-se necessária nesse exato momento

Ponho a máscara da rotina
E sigo o enfadonho bloco do cotidiano

Qualquer coisa é melhor que ser vazio
Longe de mim ser o que sou
Sou o que não sou

Viva as máscaras!!!
Hêêêêêê!!!

É melhor assim
Acredite

Tá triste?
Infeliz?
Sozinho?
Amargo?
A cabeça dói?

Eu te pergunto:

Quem se importa?


Eis a realidade!
Ninguém se importa camarada!

Uma solução?

Simples

Finja!!!

É melhor fingir

Fingir que não é amargo
Fingir que acredita
Fingir que se importa
Fingir que é interessante
Fingir que é feliz

Fingir


Entendeu?

Entendeu mesmo?


Então meus parabéns!!!

E adeus


E pra não perder o costume
Um último brado pra comemorar o fato de não ter o que comemorar
Então lá vai
Todo mundo junto
No três
1
2
3

Hêêêêêêêê...

"Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor"

Trecho da canção "A Banda" de Chico Buarque de Holanda

E LEMBRE-SE:

"Todo carnaval tem seu fim..."
(Marcelo Camelo)

P.S.- A trilha sonora do meu carnaval?
"O bloco do eu sozinho"(Los Hermanos)

George Facundo

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Mapa dos males

Se ninguém quiser mais te visitar, se o preço dos imóveis no seu bairro começar a cair e em outras áreas aumentar satisfatoriamente...

você tem um bode expiatório.

http://www.wikicrimes.org/