domingo, 5 de agosto de 2007

Onde a foice ceifa o relvado

O futuro do movimento ambientalista passa por uma reformulação da idéia de movimento - e encontra por isso muitas resistências em seus próprios colaboradores

Não sou ambientalista engajado; nem mesmo ativo. Mas posso dizer que sempre tive consciência da importância das questões ambientais e sempre procurei manter uma conduta condizente com esse conhecimento. Sem qualquer orgulho ou pretensão, posso dizer que é isso, afinal, o que buscam os movimentos ambientais: cidadãos bem-informados e coerentes às causas ambientais. Ou, ao menos, deveria ser.

A influência socialista nos movimentos ambientalistas, especialmente do terceiro mundo, é patente. Mesmo que haja, por parte de alguns críticos ou conspiracionistas, uma identificação histórica do movimento verde com a direita elitista, hoje este se vê de tal forma popularizado e associado às questões sociais que há, sem dúvida, uma proximidade muito maior com o filão revolucionário da política do que com o conservador. Mas aí ocorre um problema de "filiação": os movimentos ambientais acabaram adotando, em sua maioria, muitos aspectos da luta operária; quando não todo seu modus operandi . Mesmo ideologias políticas ou místico-religiosas se tornaram a mira de alguns desses movimentos, enfraquecendo suas proposições originais a que as questões ambientais autêntica e naturalmente evocam.

Percebem-se já algumas dissonâncias dentro do movimento verde que nascem não da "indústria da desinformação", mas de orgulhos ideológicos feridos. Alguns "engajados" se sentem ofendidos com a popularização das causas verdes; seja com a tomada de consciência progressiva da população ou por um aprofundamento da mídia acerca do tema. Virou moda; dizem. O ambientalismo virou moda? Que seja eterna moda, então! Desde que devidamente colocado a par dos movimentos sociais (sem criar antagonismos artificiais com estes), deve, sim, ser popularizado! Mas não é assim que pensam os que se dizem "antigos ambientalistas", como se ser antigo fosse sinônimo inequívoco de ser bom. Isso remete a uma mania comum a diversas áreas da vida cotidiana: uma espécie de patia de saudosismo do que nunca existiu ou se viveu...

Ao contrário; essas pessoas engajadas e amargas estão por aí, ainda em movimentos sociais e ambientais, recusando a se reciclar, pregando lutas e forçando oposições. Mesmo jovens ambientalistas parecem se afeiçoar mais a esses "antigos", por seu comportamento alucinado e discurso provocativo. E não sossegaram enqüanto conseguirem a reversão de tudo o que pregam, prorrogando qualquer perspectiva de sucesso ou progresso da causa para continuar a criticar e apontar. Sempre foi assim na ardilosa vida política; tem sido assim no crescente movimento ambiental.

Sinceramente, estes "antigos" não são nem nunca foram verdadeiramente ambientalistas; nunca entenderam a importância fundamental do ambiente.

3 comentários:

Patricia M. disse...

"forçando oposições", sem dúvida.

Não esqueço de uma senhora que diante da explicação de um rapaz sobre a dificuldade de se aceitar sua proposta de mudança de um texto se levantou e gritou com arrogância: "Olha aqui meu filho... eu estou no movimento ambientalista desde muito antes de você nascer"!
E isso de repente justifica todos os argumentos dela? Isto de fato salva o planeta? ou é apenas o legitimador incontestável e supremo de sua sabedoria e experiência que lhe conferem poder de decisão sobre todos?

Acabei de assistir "A queda: as últimas horas de Hitler" e percebi mais uma vez o quanto a ideologia tomada sem reflexão é perigosa.
Afirmações do tipo: "naõ importa o que é certo ou possível, mas sim o que eu desejo" ou "matarei as crianças porque se o nacional socialismo não vingar não valerá a pena viver neste mundo" podem parecer pequenas e isoladas quando ditas em uma reunião de 20 pessoas da qual participamos. No entanto, frases assim construíram a História.

Sávio Mota disse...

A ideologia é, sem dúvida, a morte da razão; pois se trata precisamente do ponto em que passa do raciocínio à naturalização, da pergunta à resposta a ser repetida a cada nova pergunta.

É um conceito meu de ideologia, é claro... mas sendo assim que historicamente ocorre à maior parte dos movimentos ideológicos, pode-se defender uma nova acepção da palavra - não é mesmo!?

O que proponho, então!? A não-ideologia.

Síria Mapurunga disse...

Em todos os cantos, realmente, temos esse tipo de gente que quer se apropriar de movimentos. E essa falácia da antiguidade é invocada com freqüência. A nossa política tá cheia de exemplos.

Quanto à não-ideologia, aí já é bem complicado. Não encare como um preconceito ou coisa do tipo. É só que encaro a ideologia como algo tão enraizado (posso estar enganada) que deve ser difícil, se não impossível, pregar o fim dela.