sexta-feira, 27 de julho de 2007

Um pouco do verde ou do cinza

O Parque Estadual do Cocó é o trecho entre a BR-116 e a foz do rio. O decreto nº 20.253, de 05 de setembro de 1989, assinado pelo governador na época Tasso Jereissati, declara ser de interesse social a desapropriação da área para fins de preservação.

Segue, em 1992, outro decreto, destinado a ampliar o parque e assinado pelo então governador Ciro Gomes. O texto enfatiza a política de preservação do meio ambiente feita pela administração estadual e diz visar “uma melhoria na vida da população”.

A defesa do Cocó teve início nos anos setenta, quando o Banco do Nordeste queria construir sua sede administrativa na região. Atualmente, uma nova preocupação dos ambientalistas e daqueles que se importam de alguma forma com o local é a construção da Torre Empresarial Iguatemi, a poucos metros do rio.

Aparentemente, a construção tem tudo para ser proibida. No entanto, uma licença para a obra foi concedida pela prefeitura de Fortaleza. A Semace (Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Ceará) indica como atividade proibida na zona de amortecimento a “implantação ou ampliação de quaisquer tipos de construção civil sem o devido licenciamento ambiental”.

A concessão de licenças nas zonas de amortecimento do parque é listada pela secretaria como atividade permanente, ao lado de fiscalizações monitoramento, campanhas educativas, etc. Esta parte da lei não está bem clara. Parece deixar muitas brechas.

Todas as pendências judiciais e a real situação do lugar não chegam até nós de forma satisfatória. Os jornais tratam o parque como mais um equipamento de lazer da cidade que, por sorte, possibilita-nos contato com a natureza. Os ambientalistas têm diversas visões. Dentre elas, a de manter o parque o mais distante possível da ação humana. Também é fato que algumas pessoas tiram dali seu sustento. O Iguatemi, por sua vez, anuncia escritórios com vista privilegiada para o verde.

Algo quando se institucionaliza, quando é socialmente construído, permanece socialmente dependente. Aquele pedaço de natureza não é mais dono de si. Que olhar vai decidir o destino do Cocó?


Fontes: Diário do Nordeste, O Povo e Semace. [online]

2 comentários:

Sávio Mota disse...

O Parque do Cocó está em uma posição central em relação aos caminhos que Fortaleza adotará. Seu destino definirá a decisão da cidade quanto ao seu modelo de crescimento: se algo desenvolvido e sustentável ou comprometido com o mercado, ignorando a qualidade de vida e a saúde da população da capital.

Tenho a progressiva sensação de que podemos, sim, fazer algo. E que seja algo incisivo, sem ser agressivo ou radical. Podemos, porque não, nos levantar contra os absurdos que se praticam em nossa e outras cidades; como os jogos diplomáticos nos ensinam, o apoio mútuo de pessoas de lugares diferentes, mesmo sem qualquer relação aparente, pode dar certo. O desemblogue-se também vem pra isso; é minha aposta!

Belo texto informativo, que levanta e dados históricos cruciais para o entendimento de qual seja a importância de se falar do Cocó hoje. São pontos ocultos ou pouco explorados pela mídia "chapa branca" do Ceará... Sem manifestações e informações desse tipo, o Cocó continuará a inundar a Engenheiro Santa Junior, as pessoas continuarão a atirar papéis na via pública, prédios continuarão a ser erguidos...

Síria Mapurunga disse...

O olhar que decidirá os destinos do parque eu não sei...
Mas espero que olhos assim como os seus ponham a vista sobre ele.

Gostei demais da maneira com que você escreveu, Liv! Essa é uma das provas de que escrever para informar não quer dizer necessariamente tolher o livre pensamento.