“Hermenêutica deve se preocupar não com a intenção que o autor passa para os seus leitores, mas sim com todas as possíveis interpretações que estes possam ter a respeito de determinada mensagem” (Paul Rocœr)
A mudança na percepção da realidade para os seres humanos é constante e varia de individuo pra individuo. Um mesmo fato, relatado por pessoas diferentes, traz implicações diversas, pois o foco da atenção de cada pessoa se detém em pontos que são significativos para elas. Isso revela uma constante variação da percepção do mundo no ser humano, e o enfoque que cada um dá aos fatos revela o seu posicionamento face às suas experiências e à realidade. O cenário da existência humana é composto de muitos fatos, e as pessoas, muitas vezes, fixam-se em um só, sem buscar a sua relação com os demais, perdendo assim a visão do todo. Ao interpretarmos determinada situação, somos levados a perceber apenas aquilo que queremos ver, muitas vezes esquecendo daquilo que outro quer nos fazer enxergar (o que muitas vezes, realmente precisamos).
Em meio ao conflito de enfoques pessoais, se agrega o fato de que a finalidade de determinada mensagem nunca é o resultado que incide em quem a recebe. Isto pode ser melhor explicitado pela fórmula (i)?(e)* (lê-se: a intenção nunca é o efeito) que é um construto da Teoria da Informação e sustenta o fato de que a comunicação humana se baseia, sobretudo, na incerteza das relações do ser humano com realidade e de suas interpretações por parte dos indivíduos.
A incerteza é em grande parte geradora de equívocos, pois a limitação das visões individuais esconde em si um ardil para as significações. Principalmente quando os conteúdos emocionais são explícitos, ocorre uma maior ênfase nas interpretações mal formuladas. Daí surgem os mal entendidos e tudo mais que os acompanha, fazendo com que seja mais difícil voltar a um estado de equilíbrio inicial e a tentativa de um consenso.
É portanto uma armadilha de ter uma visão voltada, em excesso, para si mesmo, bem como a insistência em fazer outra pessoa aceitar esta visão. Pois muitas vezes o outro não vê o mundo igual a você, e acima de tudo não precisa aceitar o modo como você o vê também. Mais admirável é saber que cada pessoa tem seu ponto de vista e que este deve ser levado em conta, mesmo se nós não o aceitarmos de forma total.
Talvez o enigma da aceitação e do consenso seja apenas a consciência de que aquilo que outra pessoa pensa deve ser levado em conta, de alguma maneira, pois é algo significativo para ela. E isso se torna bastante útil para sabermos que o mundo é muito mais do que aquilo que pensamos e vemos nele, sozinhos.
* um conceito semelhante é formulado por Hegel, ao qual chamou de ecologia da ação, sendo esta a idéia de que as conseqüências de uma ação escapam das intenções de seus iniciadores.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Milagres

Natal, 21 de fevereiro de 2008.
*foto e efeito, Nathália M.[eu]
=)
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
A Estréia
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Flores Frívolas no Jardim da Sacanagem

Meu Deus
Como sou imbecil
Imbecil sim
E ainda por cima cego
Isso mesmo
Sou cego também
Num mundo de cegos
Onde quem tem um olho é míope
Aí lascou
Nada não neguim
O negócio é curtir
Vamu curtir
Chegou o momento
É época do pão e circo
Ops...
Quer dizer
É época de carnaval!
O samba no pé
A lôra gelada na mão
E a morena quente no colo do alemão
Solta o pancadão meu irmão
Cadê o grito da galera???
Hêêêêê!!!
E a moçada cai na folia!
Hêêêêê!!!!
Olha a goma!!!
Hêêêêê!!!
Olha o confete!!!
Hêêêêê!!!
Olha o lança perfume!!!
Hêêêêê!!!
Olha o tráfico de drogas lucrando alto!!!
Hêêêêê!!!
Olha os gringos comendo a criançada!!!
Hêêêêê!!!
Olha a Aids!!!
Hêêêêê!!!
Olha os filhos que não voltam pra casa!!!
Hêêêêê!!!
Olha um monte de mães chorando!!!
Hêêêêê!!!
Olha o sorriso amarelo!!!
Hêêêêê!!!
Olha a folia da solidão coletiva!!!
Hêêêêê!!!
Olha o pessoal cagando pro que eu tô falando!!!
Hêêêêê!!!
Olha o Hêêêêê!!!
Hêêêêê!!!
- Estamos ao vivo do meio da folia pra todo o Brasil... Tem um folião aqui e vou conversar com ele! E aí amigo? Que tá achando da festa?
- Sóóóóóóóóó...
- Muita mulher bonita?
- Sóóóóóóóóó...
- O que você tem a dizer pra quem tá em casa?
- "?"
... passaram-se alguns segundos, afinal de contas a pergunta foi muito complexa... o folião enfim responde... e a produtiva entrevista continuou...
- Sóóóóóóóóó...
- Veio com a turma ou sozinho?
- Sóóóóóóóóó...
- E como você se sente curtindo essa folia sozinho no meio desse mar de gente?
... a resposta? adivinha!?
- Sóóóóóóóóó...
Mas tem essa não
Vamos pra folia meu irmão
E tôme pancadão
É tempo de folia
É tempo de curtição
Tá todo mundo convidado
Pro bloco da solidão
... a folia de pessoas que fingem a pseudo-felicidade e o vazio contentamento de achar (fingir?) que tem tudo não tendo absolutamente nada...
Imbecil
É isso que sou
Por quê?
Por quê meu Deus?
Como fui deixar acontecer?
Escapou por entre meus dedos
Nunca mais vou vêla
Nunca mais
Nem na vida
Nem no carnaval
Nunca mais
Ela
Um lindo rosto
Perdido na multidão
Adeus
Mas tem essa não
A fila anda mah
Levanda a cabeça
E vamos
Vamos pro baile de máscaras
Basta sair de casa e verá
Em meio a tempestades de goma
E o brilhar de confetes
O carnaval das vaidades e ostentações
Eu desisto
Não luto mais
Me entrego
Vou ao baile de máscaras
Ponho a máscara da felicidade
E mergulho no mar de sorrisos falsos
Eu sou um gênio
Felicidade
Minha melhor fantasia
E quando o bloco passa
De repente tudo perde a graça
Foi tão rápido
Nem percebi
O tempo não perde tempo
E volto pra casa na quarta
Com a alma em cinzas
E é com muito pesar que tiro minha máscara
Finalmente
Ai que dor
Contemplo meu rosto no espelho
E pra minha triste surpresa
Percebo que não tenho rosto
Tudo o que vejo é um imenso vazio
O nada
Mas tem nada não
Ainda bem que máscaras é o que não me falta
E pra ocasiões assim tenho uma perfeita
Uma máscara que particularmente não gosto
Mas faz-se necessária nesse exato momento
Ponho a máscara da rotina
E sigo o enfadonho bloco do cotidiano
Qualquer coisa é melhor que ser vazio
Longe de mim ser o que sou
Sou o que não sou
Viva as máscaras!!!
Hêêêêêê!!!
É melhor assim
Acredite
Tá triste?
Infeliz?
Sozinho?
Amargo?
A cabeça dói?
Eu te pergunto:
Quem se importa?
Eis a realidade!
Ninguém se importa camarada!
Uma solução?
Simples
Finja!!!
É melhor fingir
Fingir que não é amargo
Fingir que acredita
Fingir que se importa
Fingir que é interessante
Fingir que é feliz
Fingir
Entendeu?
Entendeu mesmo?
Então meus parabéns!!!
E adeus
E pra não perder o costume
Um último brado pra comemorar o fato de não ter o que comemorar
Então lá vai
Todo mundo junto
No três
1
2
3
Hêêêêêêêê...
"Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor"
Trecho da canção "A Banda" de Chico Buarque de Holanda
E LEMBRE-SE:
"Todo carnaval tem seu fim..."
(Marcelo Camelo)
P.S.- A trilha sonora do meu carnaval?
"O bloco do eu sozinho"(Los Hermanos)
George Facundo
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