Alô, moça do cabelo vermelho! Ou seria ainda a menina de bermuda, bicicleta, mutante, loira... !? Pouco importa, ainda continuas a mais completa tradução de uma cidade no coração da América do Sul.
Sabe que outro dia até pensei em criar um negócio novo para entender e explicar o mundo!? Porquê os puristas, que defendem a honra da ciência e da filosofia (e que por isso mesmo deixam de lado o que é de mais humano, mesmo quando algo sem importância ou sentido); os puristas não querem esse tipo de raciocínio em seus escritórios e academias. Então eu pensei em criar esse negócio novo, sem nome, que nem arte é, porquê isso, cara Rita, é com vocês que tem talento...
Pois bem, acontece que ouvia tua M te vê, "é nas urnas que eu vou me vingar (porquê eu vou me vingar!)", e pensei: você se vingou?
O Brasil já é penta, já temos dois Ronaldinhos e os dois de araque no ministério já são mais que dois (e até de mais araque)... e talvez quem era honesto e competente já tenha sido eleito. E aí, algumas pizzas, cuecas e Playboys depois, vem a pergunta: valeu a pena se vingar?
A resposta tá na ponta da língua; ou, melhor, da antena de tevê: nunca na história desse país o Brasil foi tão vergonhoso! Não preciso enumerar aqui os diversos acontecimentos vexatórios que abateram a alma brasileira; basta olhar o ânimo dos "E agora, Josés!?". Os trezentos picaretas com anel de doutor se transformaram em um nordestino ignorante sem diploma e presidente da República. Democracia participativa, vai ver... tem quem diga que o príncipe do saco roxo virou um sapo barbudo. E quem ficou com o olho roxo foi o Homem Bombástico... roteiro de Buñuel.
Valeu a pena se vingar?
Talvez não. Definitivamente, não; se assistirmos os mesmos canais de sempre. Mas tem quem ainda coma o prato frio como quem devora sushis - e não são poucos. Mesmo sem pressa, com a carne crua (às vezes com couro) e o risco de ficar com bafo de peixe, tem quem engula satisfatoriamente a iguaria. E salve Mário Jorge Lobo Zagallo!
São esses que se vingam à sua e à minha revelia, Rita Lee; queiram os caretas ou não. De perto ninguém é normal. Sabem separar o joio do trigo, mesmo que tenham de fazer papa com casca e tudo. Vivem isso, menos encarcerados nos morros e favelas do que nós, nos shoppings e nos carros. Eles mais perto dos criminosos; nós, do crime.
O povo, Rita, o povo se vingou. Foram 8 anos de mandato de Fernando Henrique; serão 8 de Luís Inácio. Pouco ou nada importa o que aconteceu ou deixou de acontecer na política nacional. Menos ainda se Lula sabia ou não. Ninguém no morro sabe onde o traficante mora, né verdade!? E que tem Lula a ver com seus comandados? Afinal, Jesus Cristo andou com Judas - e aí?! Mudou alguma coisa?
Não há razão sem emoção, nem emoção sem razão, que supere o que o povo sente com cabeça e coração: a vingança, Rita, pode ser fria, mas continua sendo doce!
P.S.: Ah, se criei o tal negócio? Não, nem nome pro batismo tem, coitado. Na verdade eu não poderia mesmo cría-lo ou tê-lo por propriedade; ele já anda por aí, bem crescidinho. Nasceu junto à consciência dos primeiros hominídeos - aquela mais simples, mais primitivazinha consciência, nada política ou ideológica, que sempre escapou dos moldes de qualquer coisa que o próprio homem tenha criado. Aquilo que, sem nenhuma pretensão antropocêntrica ou especista, deveria ser distintivo e sinônimo do termo "humanidade".
2 comentários:
Pra não falar só da sutileza escrachada dos argumentos e das provocações, o post me parece um bocado hermético. Posso ser mesmo ignorante ou ter feito uma leitura apressada, mas vamos aos pontos:
1. a política personalista carrega nos ombros o peso de se depositar interesses, sonhos e frustrações em um "representante".
2. O representante, por sua vez, é lembrado menos pelas intenções, por mostrar a que veio, do que pela sua origem, pelo campo de onde saiu e se representa este campo ou não, além da posição que ocupa hoje. Daí vem parte de sua legitimidade.
3.Se me perguntarem se me senti vingada ao votar e eleger Lula por duas vezes consecutivas, perguntarei: vingar-me de quem? para quê?
Então sinto que houve justiça; isso posso afirmar com certeza. O que vi na história do Brasil foi uma sucessão de presidentes todos saídos das coxias de um teatro. A novidade de um artista circense me pareceu interessante. Pensei: não são os homens bons ou maus por natureza, nem é a Política algo imundo em sua essência. Não há essência em nada,mas conjunturas, contingências e, vez em quando, imperativos ou necessidades.
A teia de relações depende de um campo no qual se firmar. São coisas, teia e campo, que se estruturam juntas, uma se fazendo na e pela outra.
4. Não levem pro lado psicanalítico, mas acho que me vinguei de meu pai e de tantos outros "caretas" (é o noooovo) que achavam que a diferença (Lula ter vindo do povo, ser do PT, entre outras coisas) seria maléfica.
Sempre que se percebe o potencial de resistência, de criatividade e de solidariedade na diferença, há um campo pleno de possibilidades singulares, múltiplas, intercambiáveis e interconectáveis.
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